16 de abril de 2008

À engenharia...

Quer se goste dela ou não, tem que se admitir que é imprescindível. A engenharia cobre vários ramos da ciência e em todos eles tem um papel preponderante. É através da engenharia que as civilizações vão dando passos evolutivos. Além das óbvias pontes e edifícios, temos também a investigação noutras áreas menos visíveis, mas igualmente importantes. O ADN tem vindo a ser traduzido pela engenharia genética, a descoberta de novos materiais vem, em parte, da engenharia Química, etc…

Este post é uma homenagem específica à engenharia automóvel! Quando os engenheiros, lá nos seus gabinetes, desenham um veículo, pensam na sua longevidade… Pensam no tipo de piso onde determinado veículo vai andar, pensam o clima mais específico para determinada opção, pensam na vida dum motor em função do seu esforço, pensam no cansaço do chassis, pensam em tudo!
Não imaginam eles que os carros que desenham possam ter várias vidas e prolonguem o seu fim…ao máximo!

Uma grande parte do parque automóvel de Luanda é constituída pelo ressuscitar dos carros provenientes, maioritariamente, da Europa! Carros usados ou muito usados que chegam a Angola para, diria, uma nova Era nas suas vidas.

Carros que (parece que) não servem na Europa…são muito bem vindos em Angola. Até seria giro fazer o rasto de alguns carros…qual a sua utilização ao longo da sua vida e ao longo dos continentes. O seu fim, aqui, é quase sempre o mesmo…desmantelação massiva…é que só sobra mesmo a carcaça. É que só sobram mesmo as peças que não têm mais parafusos nem encaixes!

Antes da ultrapassagem

Para complicar ainda mais a vida de cada bólide, eles encontram aqui um percurso de vida bem penoso…que nem sei por onde começar a lista. Não é fazer queixinhas, é…fazer observações…

As estradas, apesar de muito trabalho de recuperação, andam como o queijo suíço…cheias de buracos. Buracos dinâmicos que aparecem da noite para o dia de diversas dimensões. Buracos que conseguem imobilizar uma carrinha…e que, quando chove, ninguém sabe onde eles se encontram!

O trânsito obriga a um zig-zag que, para as suspensões, deve parecer o interior do “Touro mecânico”. O pára e arranca e as travagens bruscas colocam todas as pecinhas a funcionar. Ao fim da tarde, no funil de regresso a casa, quando se inventam 6 faixas no espaço de duas, é a chapa quem paga! Os pneus “recauchusados” pregam algumas partidas, num piso que reserva sempre surpresas.

Todas estas máquinas andam com um combustível que demora a chegar aos seus depósitos. Num país que caminha para os 2 milhões de barris de petróleo por dia, a gasolina das bombas muitas vezes esgota-se. O mercado paralelo cresce assim como alternativa, com bom e mau sentido. A gasolina chega mais perto das pessoas com maior frequência, mas a exigência do negócio envolve alguma perda de pureza dos ditos químicos.

Embora as marcas que cheguem agora já se façam acompanhar de alguma assistência técnica, o volume de avarias é gigante, principalmente na camada informal de veículos!

Se se costuma dizer que em cada Português há um treinador de futebol, deixem-me alargar a ideia e ainda dizer que há um mecânico em cada Angolano… Com as ferramentas que tiverem, com alguma sabedoria que tenham absorvido, mas com muita intuição também…arranjam, ou remendam os seus carros. E digo-vos…o que é certo é que as máquinas continuam a rolar…

Acadadinho de fazer uma ultrapassagem

Assim sendo, um grande bem-haja aos senhores engenheiros que desenham os carros com uma vida que é largamente ultrapassada…em tão difíceis condições…

A andar à minha frente

3 comentários:

Luis Cirne disse...

Belo post!!! O meu carro tb ja deve tar a ficar assim :))

Joana disse...

Com carros assim é fácil transformar 2 faixas em 6, não deve haver nenhum pudor no chega para lá, que deve ser guiar em Luanda.

É uma nova estética automobilística!!

Unknown disse...

Epa, este post trás-me saudades do meu velho clio. Embora tivesse um feitio complicado em dias de chuva e humidade, compreensivo por ter 16 aninhos, em Angola quase de certeza que seria um carro para durar mais 16 anos.